sexta-feira, 7 de março de 2014

1ªe 2ª Bienal da Bahia -Histórias

 Primeira postagem de 2014 \o/



1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas (1966)


Convento do Carmo, dezembro de 1966. Foi nesta construção primordial de grande importância histórica para Salvador que se realizou a 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas, conhecida como Bienal da Bahia. Reunindo artistas de diferentes partes do país, entre eles os premiados Lygia Clark, Rubem Valentim, Rubens Gerchman e Hélio Oiticica, o evento foi um marco na história da arte brasileira. Promovida pelos artistas Juarez Paraíso, Chico Liberato e Riolan, com o apoio do Governo do Estado da Bahia, a Bienal tinha como proposta descentralizar a produção artística no País e, ao mesmo tempo, afirmar o diálogo do cenário baiano e nordestino com a cena artística do resto do país.
Segundo Chico Liberato, artista plástico e cineasta, a notícia do lançamento da 1ª Bienal da Bahia foi recebida com entusiasmo pela comunidade artística: “Eu estava no Rio de Janeiro, em uma exposição na Galeria Relevo, de Jean Boghici, quando Juarez me ligou e disse: ‘Chico, vai sair a Bienal da Bahia, você já pode convidar o pessoal para as salas especiais’. Voltei para a sala expositiva e falei para o dono da galeria: ‘Olhe, a notícia é essa, Juarez Paraíso acabou de me dizer ao telefone que eu já convidasse as salas especiais para a 1ª Bienal da Bahia’. Todos bateram palmas, foi maravilhoso”.
A boa recepção do surgimento da Bienal da Bahia foi também pontuada pela coreógrafa Lia Robatto: “quando correu a notícia de que ia ser aberta a primeira Bienal da Bahia foi um entusiasmo geral, todo mundo animadíssimo”. Por conta do seu histórico de contato com as bienais de São Paulo, Lia decidiu participar da edição nordestina trazendo uma perspectiva diferente de abordagem do corpo. A temática corporal estava sendo discutida na época por personalidades como Lygia Clark, o que fez a coreógrafa pensar em trilhar o caminho inverso: “em vez de ser uma artista plástica trabalhando, abordando o corpo, vai ser uma coreógrafa, através do seu corpo, abordando as artes visuais”, contou. Com seu projeto, Lia foi a única coreógrafa que apresentou uma proposta de arte visual na Bienal, o que, para ela, foi prova da mentalidade aberta e visão não convencional que caracterizaram a 1ª Bienal da Bahia.

2ª Bienal da Bahia e ditadura militar (1968)


Dois anos após a realização da primeira edição, Salvador voltou a sediar uma Bienal, desta vez no Convento da Lapa, onde atualmente funciona um campus da Universidade Católica. Entre as novidades dessa segunda edição – inaugurada pelo então governador do Estado, Luís Viana Filho –, havia uma seção especial de objetos que não faziam parte dos campos tradicionais das artes, além de um prêmio especial para pesquisas.
Foram expostos ao público cerca de três mil trabalhos, divididos da seguinte forma: Gravura e Pintura; Desenho, objeto e escultura; Salas Especiais, Pintura Primitiva, desenho e fotografia; e Sala Especial de Artesanato. O evento, entretanto, foi fechado dois dias após sua abertura. Passado um mês, foi reaberto com dez obras a menos, consideradas subversivas pelo Regime Militar, além das obras retiradas por outros artistas em solidariedade aos colegas censurados. Os jornais da época noticiaram o acontecimento, como esta matéria do A TARDE, publicada no dia 23 de dezembro de 1968:
Jornal A Tarde publicou matéria sobre o fechamento da Bienal de 1968
Jornal A Tarde publicou matéria sobre o fechamento da Bienal de 1968
A reportagem retrata o contexto político da época e o fechamento do evento, como exposto no seguinte trecho:
“Em verdade, o que houve foi a apresentação de quadros considerados subversivos, o que causou sérios aborrecimentos e o fechamento da exposição por algumas horas para retirada dos referidos trabalhos. Entre eles figuram quadros de Levio Braga, Antônio Manuel, Antônio Lima Dias e Tereza Simões.Também os prêmios que deveriam ser distribuídos ontem, às 20:00, no Teatro Castro Alves, não o foram, porque apenas um dos artistas agraciados, Francisco Liberato (Objeto), encontra-se em Salvador. Telegramas já foram enviados aos artistas vencedores do certame, aguardando-se a qualquer momento as respostas”.
Desde então, as Bienais não foram mais realizadas. A 3ª Bienal da Bahia, que acontece de 29 de maio a 7 de setembro de 2014, vem fechar uma lacuna de 46 anos na arte baiana. Durante 100 dias, mais de 30 espaços culturais da capital e do interior receberão exposições, performances, ações educativas e uma programação cultural.
É tudo nordeste? é a indagação que move o projeto curatorial, o conceito central que percorre todas as ações, exibições, projetos e encontros da 3ª Bienal da Bahia. A questão impõe um ato de aproximação da produção cultural e artística da região, em suas mais diversas perspectivas: o Nordeste como condição geográfica, construção histórica e ainda como potente peça do imaginário.